Saber quem são os animais que estão desaparecendo silenciosamente ao nosso redor é um primeiro passo poderoso para a preservação. Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, autora do livro Bichos Vermelhos, apresenta essa fauna em risco com uma linguagem acessível, poética e informativa, reunindo um verdadeiro inventário da biodiversidade brasileira que está ameaçada de desaparecer.
Em vez de dados frios, o texto apresenta curiosidades únicas e traços marcantes que fazem o leitor se conectar com cada bicho. A partir do momento em que um animal ganha nome, rosto, comportamento e história, ele deixa de ser apenas um número numa lista vermelha — ele passa a ser alguém com quem se pode se importar. Saiba mais, a seguir!
O que surpreende na maneira como os animais são apresentados?
Há algo profundamente criativo na forma como Bichos Vermelhos nos mostra cada animal: as informações científicas são apresentadas com humor e surpresa. A ariranha, por exemplo, não tem nada a ver com aranha, mas tem uma mancha no pescoço que a identifica como uma digital da espécie. O caburé-de-pernambuco é uma corujinha minúscula que não é vista desde 2001. E o galito tem uma cauda colorida que lembra a de um pavão em miniatura.

Um tema recorrente no livro de Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, é o impacto devastador do comércio ilegal de animais silvestres. Espécies como o bicudo, o tico-tico-do-campo e o pintor-verdadeiro são capturados devido a seu canto ou beleza, e acabam aprisionados em gaiolas que silenciam sua existência. O periquito-cara-suja, o mais ameaçado entre os psitacídeos brasileiros, também entra nessa triste estatística. O tráfico de animais não é apenas uma prática criminosa, mas um acelerador da extinção.
Por que o desmatamento é um inimigo tão constante?
O desmatamento aparece como o vilão invisível em diversas histórias. O cachorro-do-mato vinagre, um animal arisco e pouco conhecido, sofre com a perda do habitat natural. A codorna-buraqueira vê seu território, o cerrado, ser devastado por monoculturas e queimadas. Já o macaco-prego-galego, uma das 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo, depende das florestas que estão sendo destruídas. Quando se tira o chão desses animais, tira-se também sua chance de existir.
Portanto, cada animal apresentado por Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, carrega um detalhe que cativa. O tamanduá-bandeira, por exemplo, não tem dentes — é absolutamente incapaz de morder. Mesmo assim, sofre com atropelamentos e caça. O porco-espinho esperança, recém-descoberto em 2013, mal teve tempo de ser estudado antes de já ser considerado em risco de extinção. Esses detalhes criam empatia, tornam cada bicho um personagem único e memorável.
Qual o impacto de destacar a beleza desses animais?
A força de Lina Rosa Gomes Vieira da Silva como autora também está em celebrar a beleza e a diversidade dos animais brasileiros. A jaguatirica, prima menor da onça, exibe um padrão de pelagem hipnotizante. O lobo-guará, símbolo do cerrado, é uma figura elegante, de pernas longas e andar tranquilo.
Ao destacar o que há de belo e fascinante em cada um, o livro ajuda a construir uma nova percepção: preservar não é apenas uma obrigação ética, mas também uma forma de manter viva a poesia do mundo natural. Quando enxergamos os bichos como expressões da beleza da vida, queremos protegê-los com mais urgência e cuidado.
Conclui-se assim que ao aproximar a infância de temas ambientais com sensibilidade e informação, Lina Rosa Gomes Vieira da Silva cumpre um papel fundamental: formar cidadãos que entendam o seu lugar no planeta como parte de um todo. Cada animal, ao ganhar nome, história e rosto, se torna um símbolo de algo maior — da necessidade de empatia, respeito e ação coletiva. A obra convida não só à leitura, mas à reflexão e ao envolvimento.
Autor: Khasmogomed Rushisvili