Desmatamento do bioma, impulsionado pela expansão agrícola, aumenta em ritmo preocupante desde 2014. Inpe lançou sistema de alerta para acompanhar a degradação.
O Pantanal, uma das maiores áreas úmidas contínuas da Terra, enfrentou uma temporada de incêndios devastadora entre 2019 e 2021 que deixou marcas profundas: quilômetros de vegetação nativa destruídos e uma perda significativa da sua biodiversidade regional.
E apesar da recente diminuição do acumulado de focos incêndios nos últimos anos (2021 e 2022),alertam que o desmatamento na região – um fenômeno associado às queimadas – está aumentando novamente. E a perspectiva para os próximos meses não é das melhores.
Isso porque junho mal começou e até a última sexta-feira (14), 733 focos de queimadas foram registrados em todo o bioma, o maior número de focos para o mês em toda a série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Pela primeira vez estamos com o Pantanal completamente seco no primeiro semestre. O Ibama já contratou mais de 2 mil brigadistas para atuar em todo o país, com foco inicial no Pantanal e na Amazônia, e vamos fazer tudo o que for necessário. As crises climáticas são eventos cada vez mais extremos”, afirmou o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, em nota.
Entenda o cenário
ÁREAS ALAGADAS: Historicamente, o Pantanal vem enfrentando uma redução significativa de áreas de rios, lagos e campos cobertos d’água, perdendo em média 29% de sua superfície de alagada nos últimos 30 anos.
CAUSA E CONSEQUÊNCIA: Segundo especialistas, a diminuição desses terrenos encharcados e cursos d’água está diretamente ligada às queimadas, já que menos água facilita a propagação de incêndios florestais.
PROBLEMA CONJUNTO: E quais são as principais causas dessa redução? O crescente desmatamento no Cerrado e a degradação das nascentes e rios que alimentam o Pantanal são apontados como fatores-chave.
DESMATAMENTO: Como desmatamento e queimadas também são práticas associadas para criar pastagens, a supressão de vegetação no Pantanal tem aumentado num ritmo preocupante desde 2014. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram inclusive que de lá pra cá a devastação mais que dobrou.
NOVO SISTEMA: Por causa desse aumento, o próprio Inpe decidiu lançar um sistema de detecção de desmatamento em tempo real para bioma. O novo monitoramento teve início em 1º de agosto de 2023.
MUNDO MAIS QUENTE: Para completar, as mudanças climáticas estão exacerbando todos esses problemas, com previsões de aumento de temperatura que podem chegar a 5 ou 7 graus Celsius no Pantanal, tornando o quadro ainda mais desafiador.
“A tendência atual do desmatamento no bioma é de aumento”, diz Daniel Silva, especialista de conservação do WWF-Brasil.
Redução de recursos hídricos
Não é à toa que o Pantanal é conhecido como a maior planície tropical inundável do mundo, com uma área que ultrapassa os 150 mil km² em território brasileiro.
Sua vegetação é uma combinação de espécies migradas do Cerrado, da Amazônia, do Chaco e da Mata Atlântica, rodeada por vastas lagoas que abrigam uma grande diversidade de animais, de aves a jacarés que dependem de suas águas.
Contudo, nas últimas décadas, o que mais se observa na região é uma transformação drástica no mapa das áreas alagadas desse bioma.
Segundo análises de imagens de satélite entre 1985 e 2022 feitas pelo Mapbiomas, uma iniciativa do Observatório do Clima para mapear anualmente a cobertura e uso da terra no Brasil, tivemos uma redução significativa na superfície de água no Pantanal brasileiro nos anos extremos dos picos de cheia e de seca:
Para se ter ideia, entre os anos de pico de cheia, houve uma diminuição de 29% na área coberta por água, passando de 7,2 milhões de hectares em 1988 para 5,1 milhões de hectares em 2018.
Já nos anos extremos de pico de seca, essa redução foi ainda mais drástica, atingindo 66%, indo de 4,7 milhões de hectares em 1986 para 1,6 milhões de hectares em 2021(veja gráfico abaixo).